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Coisas do mundo, na semiótica de minha nega

Atualizado: há 3 dias


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TERMO DE ABERTURA do livro CANTOS CORRENTES


CuraTela da Inexposição Madame Pochette


Sinopse A protonauta Agnes Dellacroix consente participar de uma transferência de alta volatilidade, quanto à compatibilidade entre a configuração espectral do ser e a configuração perceptual da sede condicionante.


Submetida a uma confecção experimental de energiaria táxtil de grande incerteza, ela não conta com recursos apropriados, plurais e diversificados, para enfrentar as eventuais imposições sensoriais às quais estará sujeita. O único instrumento garantidor com dose razoável de confiabilidade é a possibilidade de um imaginário diálogo com uma espécie de alter ego, ou um contraponto de alteridade, representado por um cantor, Paulinho da Vila.


O objetivo da transferência é aprofundar os estudos sobre concepções, intensamente debatidas pelos kyneaztaz e kryptykoz, a respeito de um suposto e possível estatuto fenomenológico do inexversus, e que os arquitextores decidem testar com o uso de recentes aprimoramentos na tecnologia de transferência de vultos (seres espectrais).


ATA DE LANÇAMENTO


Pareceres, previsões, orientações dos arquitextores, em mesa redonda no gabinete da Coxia, em Cine Inex.



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Tema 01 - ERA UMA VEZ


Tema 02 - DE OLHO NA TELA


Tema 03 - A NOITE AMERICANA


Tema 04 - PERSONA


Tema 05 - LIMITES


Tema 06 - NA TRILHA DA MÚSICA


Tema 07 - CAFÉ SOCIETY


Tema 08 - LINHA DE MONTAGEM


Tema 09 - ASSINATURAS


Tema 10 - THAT´S ENTERTAINMENT!


Tema 11 - THE TALK OF THE TOWN


Tema 12 - ESCOLA DE CINEMA






ANTES DO LANÇAMENTO



É uma espécie de curso, dizem. Mas nos cartazes, tanto na bilheteria do Saguão como na dos Corredores de Cine Inês, não há essa palavra. Falam apenas de uma série de dez encontros sobre os procedimentos e técnicas de rastreio e monitoria.


Ou é sobre os desencontros de rastreio e monitoria?, gracejou Audite.


Pois é, respondeu Nihil, com o que pareceu um duplo aceno de cumplicidade sobre a possível pertinência da dúvida e do trocadilho.


Bem, se você quiser mais algumas informações, talvez seja conveniente assistir um conteúdo que está sendo inexibido na Saleta 2, e que está relacionado com o curso. Vamos lá ver?







Acho que, até por isso, seria interessante participar dos encontros. Eu pretendo acompanhar. E você?


Audite respondeu que também iria acompanhar. Tem que fazer reserva? Você me inscreve?


Sim, sim. Estão anunciando que será no Salão de Chá, o CaféInês. O espaço é reduzido. Então, é necessário limitar as inscrições, condicionar à capacidade de lotação, no máximo.


Quem vai conduzir os encontros. Uma só pessoa?


Em princípio, parece que é só uma pessoa. Mas não diz se é palestrante, apresentador, moderador ou outra função. O nome que consta nos cartazes é Paulinho da Viela.


Paulinho da Viola?


Não, não falei errado. É Paulinho da Viela, mesmo. A não ser que trocaram letra no cartaz.


Deve ter alguma relação. Pelo menos, o título dos encontros certamente está fazendo referência a uma canção do Paulinho da Viola.


Qual canção? Nihil não era muito ligado, ou melhor, nada ligado à música popular. Se é que fosse ligado a qualquer expressão artística em especial.


Um samba. Coisas do Mundo, Minha Nega.


Ah...


Quando começa?


Daqui a pouco. E, pode ficar tranquila... nossos nomes já estão inscritos.


(?) Audite (!)


Desde ontem.


O Salão de Chá não estava lotado. Meio a meio, cadeira ocupada, cadeira vazia. Deu até para escolher uma mesinha de canto, encomendar dois cafezinhos e duas fatias de bolo e providenciar o seu consumo sem pressa, degustando cada aroma, cada sabor.


Foi o tempo certo de espera para ser anunciado o condutor dos encontros.





Minha nega é que(m) sabe das coisas. Cheguei a essa conclusão na noite - já era alta madrugada - em que voltava para casa, para minha nega, depois de uma roda de samba. Violão sob o braço, passo no caminho por três passagens que me levam a refletir sobre o mundo, sobre a vida.


Paulinho da Viela, canto o samba da mesma experiência vivida pelo meu quase homônimo, o da Viola.


Primeiro, canto a passagem de um que "me falou de doença, que a sorte nunca lhe chega, está sem amor e sem dinheiro, perguntou se eu não dispunha de algum que pudesse dar".


Depois, canto a passagem de outro "que bebeu a noite inteira, estirou-se na calçada sem ter vontade qualquer, esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher, não chegar de madrugada, e não beber mais cachaça", diz que "ela fez até promessa, pagou e se arrependeu",


Por fim, não canto a terceira passagem, a passagem de um corpo, ou de algo além que lá esteve, que ali estava "iluminado ao redor, disseram que foi bobagem, um queria ser melhor, não foi amor nem dinheiro a causa da discussão, foi apenas um pandeiro que depois ficou no chão".


Sabe o que minha nega me disse? Que eu já estava aprendendo. Que, quando eu fiz aquele samba pro duro, eu já estava aprendendo. Que, quando eu achei melhor não fazer um samba pro morto, eu também estava aprendendo.


Mas, antes disso, quando eu gravei o nome de minha nega na viola, quando eu pensei em fazer um samba “puro de amor, sem melodia ou palavra, pra não perder o valor", eu já estava aprendendo.


E ela me disse que, falando essas coisas para mim, ela também estava aprendendo.


Ela falou ainda que poderia indagar coisas do meu samba, como, por exemplo, os fatos descritos na letra.


Seriam os fatos descritos, o desconsolo do primeiro, a bebedeira do segundo ou a morte do terceiro? E tudo o que entra nessas passagens? Na primeira estrofe, há uma boca, existem palavras, um peito, o remorso, mãos, viola, o nome da nega, a gravação. Há o cantor que vem. Existem coisas e coisas no mundo. As coisas físicas, como a viola, o dinheiro. As coisas imateriais, como o amor. As coisas imaginárias, como o samba que não foi feito, pois ninguém compreenderia.


Enfim, que coisas são essas, as coisas do mundo? "Coisas são tanto uma mesa, uma pedra, um galho, uma núvem, um pedaço de céu, uma estrela, uma pessoa etc, quanto a alegria, a tristeza, a melancolia, o amor...", ela cita o filósofo Iulo Brandão, de quem ouvira falar em remotos tempos, para quem "... a coisa é uma unidade real entre um estrato inteligível e um estrato empírico, ambos, por isso mesmo, co-relatos e co-presentes em todos os seres (1968:81).



- Sistemas concretos e sistemas conceituais (Bunge)


- Ele considera a palavra "sistema" filosoficamente mais neutra que "coisa"- assim, podemos dizer que um campo de forças é um sistema, mas já é mais difícil considerá-lo uma coisa. (Jorge de Albuquerque Vieira 1994:19)


Direção A



Direção B
















 
 
 

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