Seres e Sedes em Rede: Canal 0
- Cine Inês

- 13 de dez.
- 3 min de leitura
Introdução tutorial à CuraTela das inexposições cineindexadas no Canal 0.
Por Madame Pochette.
Começamos por lembrar que a questão fundamental das inexposições cineindexadas no Canal 0, e que deve nortear os estudos e debates das mesas redondas desta sede perceptual, é a seguinte:
Quais os elementos responsáveis pela configuração perceptual dos seres originários do Canal 0 (Natureza), e pelo condicionamento a que estão sujeitos em sua sede de origem?
Pondo a coisa em termos simples, ou talvez apenas no modo mais direto de dizer:
O Canal 0 (zero) refere-se, em princípiio, ao campo da realidade que os seres humanos denominam Natureza.
Mas, chamando à melhor compreensão do termo a velha relação filosófica entre sujeito e objeto, Natureza é, conforme o conceito de Canal 0, a realidade percebida a partir das condições naturais, inatas e desenvolvidas nos limites das aptidões físicas e mentais dos seres humanos.
Então, a dualidade entre seres e sedes reproduz, nesse particular jogo da velha relação entre mente e matéria, a tradicional interação cognitiva entre sujeito e objeto.
A Natureza, assim delimitada, corresponde às sedes perceptuais da realidade implícita no campo do Canal 0, no topo (sedes A) do eixo vertical da representação oferecida pelo tradicional desenho do jogo da velha.
Os seres humanos, em sua naturalidade biológica e psíquica, correspondem aos seres espectrais originários do campo da realidade implícita no Canal 0, à esquerda (seres A) do eixo horizontal da representação do jogo da velha.
Os conceitos e enquadramentos dessa concepção são, evidentemente, passíveis de questionamentos. Os próprios formuladores dessa modelação arquitextural (os arquitextores) não se furtam a frequentes dúvidas sobre a consistência do modelo.
Alguns argumentos logram, no entanto, suportar a continuidade das pesquisas e experiências laboratoriais empreendidas pelo Engenho, o núcleo operacional dissimulado sob a capa de uma alfaiataria e confecção, desenvolvedora de uma engenharia têxtil diferenciada. E nunca divulgada com sua taxonomia técnica específica, uma energiaria táxtil.
Uma dessas considerações, ainda que especulativas, envolve comparações entre diversos níveis de capacidade perceptual dos seres originários do Canal 0. Que são não somente os seres humanos, mas incorporam outras configurações de seres vivos, desde as formas biológicas mais primitivas até os animais aos quais a ciência negou a faculdade da percepção racional.
E, quanto aos seres humanos, há que se considerar a sua capacidade perceptual transpositora, ao construir recursos tecnológicos que lhes permitem perceber sedes perceptuais não detectáveis pela sua configuração biológica inata.
Ou seja, coloca-se aqui a inserção da consciência como fator de reconhecimento de sedes perceptuais. E não se trata apenas de saber "o que é ser como um morcego", mas de sentir os efeitos das condições impostas ao morcego pela configuração física da realidade que, para o morcego, seria a Natureza. Numa situação comparável, seria o caso de sentir o que representa, para um peixe, a realidade exterior ao meio marinho, ambiente hostil ao qual não resiste a sua condição biológica. No caso dos seres humanos, poderíamos colocar o espaço sideral como meio hostil comparável, limite biológico intransponível mas que se consegue parcialmente sentir com a intermediação de vestes protetoras.
E é daí, dessa comparação, que surge a ideia da energiaria táxtil, uma espécie de traje energético desenvolvido ao ponto de permitir que seres originários sintam a realidade de sedes perceptuais de diferentes e, no limite, inapreensíveis configurações.
Como sentir a realidade de uma sede perceptual de inapreensível configuração?
Como o ser espectral (protonauta), que tinha sido energizado para captar a configuração estranha, pode transmitir sua impressão sensória para os seres na sede perceptual originária?
Um dos recursos é a transcodificação dos signos em formulações geradas a partir de criações artísticas.



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